quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Terremoto


         As muitas vezes desastrosas conseqüências dos terremotos variam de acordo com a intensidade do abalo sísmico, o lugar onde se produziu e os efeitos indiretos de sua ação. A perda de vidas humanas é, sem dúvida, o efeito mais trágico e penoso desse fenômeno natural, de grande interesse para os cientistas porque fornece dados para o estudo da estrutura interna da Terra.
         Chama-se terremoto, tremor de terra, sismo ou abalo sísmico a toda movimentação da crosta terrestre devida a causas naturais originárias de vulcanismo ou tectonismo que gera ondas elásticas. A passagem dessas ondas sísmicas pode provocar violentos movimentos na superfície da Terra.

         A vibração da Terra se produz, na verdade, devido à rápida liberação de energia, que irradia em todas as direções a partir de uma fonte, na forma de ondas análogas àquelas produzidas quando se joga uma pedra num lago tranqüilo. A fonte, ou o ponto no interior da crosta em que ocorre a primeira liberação de energia elástica de um terremoto, chama-se foco, centro ou hipocentro. O local situado na superfície da Terra, acima do foco, é chamado epicentro.

         A sismologia se ocupa do estudo dos terremotos e dos fatores determinantes de sua capacidade destrutiva, entre eles a magnitude e a proximidade de áreas povoadas. A maior parte dos abalos, no entanto, é de pequena intensidade e ocorre em regiões remotas da Terra. Ainda assim, registram-se anualmente cerca de vinte grandes terremotos, e um ou dois deles costumam ter dimensões de catástrofe.
         Alguns grandes terremotos provocaram os piores desastres de que se tem notícia, e nenhum outro fenômeno natural tem tanta capacidade de destruição num prazo de tempo tão curto. Um dos maiores terremotos conhecidos abalou a província chinesa de Shaanxi (Shensi) em 1556, destruindo cidades e povoados inteiros, e deixou um número de vítimas estimado em 830.000. Os violentos movimentos da superfície durante grandes terremotos podem fazer desabar edifícios de fundações mais fracas, ferindo e soterrando pessoas, ou ainda provocando incêndios que fazem mais vítimas. Também têm grande poder destrutivo os deslizamentos de terra que às vezes se seguem a terremotos, bem como os maremotos, imensas ondas sísmicas geradas nas águas do mar em conseqüência de terremotos ou devido a movimentos no assoalho marinho adjacente.
         Origem dos terremotos. A origem e a distribuição geográfica da maior parte dos terremotos se explica com base na teoria da tectônica de placas, segundo a qual a superfície da Terra se compõe de várias placas grandes e rígidas que se movem em relação umas às outras e interagem nos pontos de contato.
         Os terremotos de maior intensidade tendem a ocorrer no encontro de placas tectônicas convergentes, quando uma delas mergulha sob a outra num movimento denominado subducção. A maioria desses terremotos tem seu foco a mais de 300km sob a superfície da Terra e estão associados a arcos insulares e barreiras. Há também grande movimentação sísmica perto das bordas de placas que se separam ou deslizam uma contra a outra, mas nesse caso os tremores produzidos são de menor intensidade e têm seu hipocentro a pequenas profundidades. Em todos esses casos, as ondas sísmicas são geradas pela fratura súbita da rocha, que sobrevém quando a tensão elástica acumulada durante processos tectônicos excede a resistência da rocha.
         Localização geográfica dos terremotos. Os movimentos sísmicos não afetam igualmente todas as regiões da Terra. As áreas freqüentemente abaladas por terremotos de intensidade variável são chamadas pelos geólogos de regiões de intensidade sísmica. Outras, que registram débeis sismos ocasionais, são denominadas regiões penissísmicas. O resto do planeta praticamente nunca registra atividade sísmica; essas são as regiões assísmicas.
         Cerca de 95% de toda a energia liberada por terremotos se concentra em poucas e relativamente estreitas faixas de intensidade sísmica. A principal dessas faixas se estende ao longo das bordas das placas ao redor do oceano Pacífico, numa região conhecida como cinturão circumpacífico. Inclui-se nessa faixa a área de reconhecidamente intensa atividade sísmica do Japão, Filipinas, Indonésia, Chile, oeste da América Central, região da falha de San Andreas, no estado americano da Califórnia, e vários arcos de ilhas vulcânicas, como as ilhas Aleutas. Outra faixa de concentração de atividade sísmica é o cinturão transasiático, que atravessa as regiões montanhosas do litoral do mar Mediterrâneo e continua através do Irã e da cordilheira do Himalaia até atingir o Pacífico. Uma terceira faixa contínua se estende por milhares de quilômetros sob os oceanos, formando um sistema global e interligado que engloba, entre outras, as cadeias montanhosas submersas dos oceanos Atlântico e Índico.
         Outros terremotos ocorrem de tempos em tempos em locais diversos e muitas vezes distantes das regiões de contato entre placas tectônicas. Esses abalos se explicam por outros mecanismos que não os movimentos tectônicos e sugerem a existência de tensões que superam a resistência das massas de rocha. Fenômenos semelhantes aos terremotos, em geral de intensidade muito menor, podem ser provocados por atividades humanas que afetam o equilíbrio das camadas de rocha sob a superfície. Alguns exemplos são os testes nucleares subterrâneos e as infiltrações de água que podem ocorrer sob grandes represas.
          Medição e previsão de terremotos. A localização dos terremotos é dada por um aparelho denominado sismógrafo, que registra a oscilação do solo provocada por ondas sísmicas que viajam desde sua origem através da Terra ou ao longo da superfície. O gráfico traçado pelo sismógrafo se chama sismograma. Relativamente simples no caso de terremotos mais próximos do local de medição, o sismograma mostra a chegada das chamadas ondas P (ou primárias), que vibram na direção da propagação; das ondas S (ou secundárias), de propagação mais lenta, cuja vibração forma ângulos retos em relação à direção de propagação; e as ondas superficiais, de amplitude extremamente alta, que se propagam ao longo da superfície terrestre.
         No caso de terremotos de origem mais distante, o sismograma tende a ser mais complexo, pois mostra vários tipos de ondas sísmicas originadas num determinado ponto mas que são refletidas ou refratadas dentro da crosta terrestre antes de atingir o sismógrafo. A relação entre o tempo de chegada dessas ondas e a distância do epicentro se expressa numa curva em que o tempo de chegada se lê no eixo vertical, e a distância do epicentro no eixo horizontal. Pela comparação dos tempos de chegada das ondas P e S pode-se determinar a distância do epicentro até uma determinada estação sismológica. Conhecer somente a distância do epicentro a uma estação de medição, porém, não basta para situar um terremoto, cujo epicentro pode estar em qualquer direção. A localização precisa do epicentro somente é possível quando se superpõem os dados obtidos em três ou mais estações.
         Geralmente se mede um terremoto pela escala Richter, criada em 1935 por Charles Francis Richter, do Instituto de Tecnologia da Califórnia. Trata-se de uma escala logarítmica baseada em registros sismográficos de amplitudes de ondas sísmicas. A escala se organiza de tal modo que cada aumento de uma unidade representa um aumento de dez vezes na magnitude de um terremoto. Um terremoto de magnitude 8 na escala Richter, por exemplo, é dez mil vezes maior do que um de magnitude 4. Enquanto este último pode provocar apenas danos leves, o primeiro constitui um evento sísmico de proporções devastadoras.
         Magnitude de um terremoto não é o mesmo que intensidade, que se define como o grau perceptível de tremor da superfície terrestre e os danos correspondentes numa dada localidade. Em geral, a intensidade de um terremoto é tanto menor quanto mais distante do epicentro for percebida, mas há outros fatores, como a geologia da superfície (se é composta de rocha dura ou de sedimentos), que podem ser decisivos nos danos provocados a construções e edifícios. O terremoto de 1985 na Cidade do México, por exemplo, de magnitude 8,1 na escala Richter, teve, no entanto, sua intensidade muito ampliada pela geologia da região, cujos materiais superficiais contribuíram para a imensa destruição registrada no centro da cidade.
         Em geral de magnitudes próximas de 8,6 na escala Richter, os maiores terremotos já registrados liberam energia equivalente à explosão de um bilhão de toneladas de trinitroglicerina (TNT). No extremo oposto, terremotos de magnitudes inferiores a 2,5 na escala Richter em geral não são perceptíveis por seres humanos e só podem ser medidos pelo sismógrafo.
         Desde a década de 1960, muitos pesquisadores, especialmente chineses, japoneses, russos e americanos, dedicaram-se a encontrar uma forma de prever terremotos. Apesar dos avanços, porém, não existe um método preciso. Os sismólogos já sabem que os grandes terremotos são quase sempre precedidos de determinadas mudanças físicas mensuráveis no ambiente que circunda os epicentros. Essas mudanças físicas envolvem certo grau de deformação da crosta em zonas de falhamento e ocorrência de dilatação em rochas, entre outras. Espera-se que o monitoramento contínuo dessas alterações acabe por aprimorar a capacidade de previsão de terremotos num futuro próximo.