quinta-feira, 8 de abril de 2010

1ª colisão de partículas no acelerador

A maior máquina do Mundo, o LHC (Grande Colisionador de Hadrões), provocou em Genebra o mais forte choque de sempre entre feixes de partículas para fazer novas descobertas sobre a matéria e a origem do Universo. 30/03/2010.

Uma colisão de feixes de protões a uma energia 3,5 vezes maior do que o recorde alcançado antes foi hoje atingida pelo LHC (Grande Colisionador de Hadrões), a maior máquina do Mundo, tendo provocado uma explosão de aplausos entre as dezenas de cientistas presentes na sala de controlo de todo o processo.

A experiência feita em Genebra, Suiça, pela Organização Europeia de Pesquisa Nuclear (CERN), a que Portugal pertence, vai permitir novas descobertas sobre a matéria, mas a grande ambição dos dez mil cientistas envolvidos no maior acelerador de partículas de sempre é provar a existência do Bosão de Higgs, a partícula que pode explicar tudo o que constitui o Universo.

Por isso, muitos destes cientistas falam mesmo no início de "uma nova era para a Ciência". Mas os primeiros resultados concretos do que se passou hoje no túnel circular de 27 km de perímetro, onde dois feixes de protões mais finos que um cabelo humano foram movimentados em direcções opostas quase à velocidade da luz até entrarem em choque, só poderão ser conhecidos dentro de meses ou mesmo anos de paciente análise dos dados recolhidos na experiência pelos gigantescos detectores do LHC.

À procura do Bosão de Higgs

"As maiores descobertas só terão lugar quando formos capazes de registar milhares de milhões de eventos ao nível sub-atómico e de identificar entre eles os poucos que poderão representar um novo estado da matéria ou novas partículas", explicou à BBC News Guido Tonelli, porta-voz da equipa do detector CMS. Este é precisamente o detector do LHC que vai procurar o Bosão de Higgs.

Portugal tem 22 físicos envolvidos no CMS, que pertencem ao Laboratório de Instrumentação e Física de Partículas (LIP) e ao Instituto Superior Técnico. A maior participação portuguesa foi a construção do Sistema de Aquisição de Dados do detector ECAL (Calorímetro Electromagnético), que tem um papel fundamental em todo os estudos de física relacionados com a detecção de electrões e fotões, e em especial na possível descoberta do Bosão de Higgs.

Falta descobrir 96% do Universo

Mesmo assim, se pela primeira vez for detectado o Bosão de Higgs em resultado destas colisões, ficaremos a conhecer apenas 4% do Universo, isto é, o Universo visível. Falta descobrir os outros 96% - aquilo a que os cientistas chamam de matéria e a energia escuras, porque sabem provar a sua existência mas não conseguem detectá-las com a tecnologia e os instrumentos disponíveis.

Quando o LHC arrancou, em 10 de Setembro de 2008, o director-geral do CERN, Rolf-Dieter Heuer, afirmou em entrevista ao Expresso: "Espero que este acelerador de partículas dê as primeiras pistas sobre aquilo a que eu chamo Universo escuro, em particular a matéria escura, que representa 23% do total. E se o conseguir será, obviamente, um grande avanço para a Ciência".

Hoje, Rolf Heuer retomou este prognóstico, ao declarar aos media que "o LHC tem uma oportunidade real, nos próximos dois anos, de desvendar a composição de cerca de ¼ do Universo".

Avaria 9 dias depois da inauguração

O gigantesco acelerador de partículas, que custou mais de 4000 milhões de euros, avariou-se nove dias depois do seu arranque, tendo ficado parado até Maio de 2009. Na altura o Expresso apurou que a avaria se deveu à falta de tempo para testar todos os sectores do LHC, já que havia pressões políticas para acelerar a sua inauguração, devido aos sucessivos atrasos no projecto que ameaçavam a credibilidade do CERN e da própria ciência europeia.

Em 20 de Novembro de 2009 as experiências foram retomadas e, depois de uma pequena paragem técnica, os feixes de partículas voltaram a circular no LHC a 28 de Fevereiro de 2010. Agora os planos do CERN apontam para que o acelerador funcione durante os próximos 18 a 24 meses, mas com uma nova paragem técnica para manutenção no final deste ano.

Os cientistas esperam que a liberação maciça de energia causada pelo choque das partículas seja capaz de recriar as condições que existiam no universo imediatamente após o Big Bang. Alguns cientistas mais medrosos acreditam acreditavam que o experimento poderia criar um buraco negro que iria sugar a Terra, a Lua, o Sol e toda a galáxia.